Os Anjos Exterminadores e o Cineasta Quase Exterminado
O mais novo trabalho para o cinema do diretor françês Jean-Claude Brisseau, “Os Anjos Exterminadores” (2006), é fruto de um contexto polêmico e de superação na vida do cineasta. O enredo muito se assemelha com todo o escândalo vivido por ele anteriormente, após à realização do seu penúltimo filme, “Coisas Secretas” (2002), quando foi processado pelas atrizes, por julgarem abuso os métodos de preparação e atuação utilizados neste trabalho.
Mais do que um grande filme, marcado por lindas cenas de erotismo e sexo entre mulheres, “Os Anjos Exterminadores” se revela uma resposta para todos esses acontecimentos. Um grito de liberdade, de renascimento do diretor.
No filme, o personagem do cineasta François (Frederic Van Den Driesschev) faz testes de elenco para cena de nudez feminina em seu novo projeto. Nesse processo, descobre a satisfação que algumas mulheres sentem em transgredir tabus sexuais. Admirador do prazer feminino, François fica ainda mais fascinado e tenta desvendar cada vez mais os mistérios deste mundo.
Como um personagem que representa uma versão da história vivida pelo próprio Brisseau, François mistura em sua história realidade e ficção para desbravar esse terreno que acredita ser, e é, de certa forma, inovador. Essa mistura evidencia também a falta de controle em determinadas situações. Apesar de ele “liberar” e dirigir as atrizes (Lise Bellynck, Maroussia Dubreuil e Marie Allan) no set, restaurantes etc, elas não se prendem a esta direção. Começam a sair juntas e aproveitam tudo aquilo longe dos comandos do cineasta.
Permeado por simbologias, particulares ou não, e metáforas inteligentes, a recente obra de Jean-Claude Brisseau é uma aula de planos perfeitos e belos, de atuação, de suavidade nas opções técnicas e de grandeza estética, desenvolvido através de uma construção narrativa simples e agradável, além de ser um filme que não cabe por inteiro somente em uma tela de cinema. Ele está além do que se vê. É maior.
Como citadas anteriormente, as simbologias e as metáforas estão fortemente presentes na obra. Desde a imagem da avó que aparece para François até a presença dos anjos e suas ordens.
A dupla onipresente de anjos representa bem a fase o obscura da vida de Brisseau. O diretor, após os episódios decorridos da realização do seu filme anterior “Coisas Secretas” (2002), entra em um “buraco negro”. Mergulha em um período marcado pela desmoralização pessoal e profissional. Quase um fenômeno sobrenatural. Está aí a relação com os anjos manipuladores do filme. E essa fase pode até ser o referencial metafórico da sequência final em que François é espancado em um assalto dentro de casa, ordenado pelos anjos. Apesar de a missão ter sido deixá-lo morrer, um dos anjos volta atrás e decide não fazê-lo, porém o deixa em um estado deplorável. Missão não cumprida.
Essa decisão decorre de um fato de importante interpretação, para a obra. Um dos anjos, o qual atuou em vários momentos influenciando seu desenrolar, acaba por se sentir atraído sexualmente, também, por toda aquela situação, ficando mais claro no último plano onde os anjos sobrepõem suas mãos e trocam olhares. Enfim, foram atraídos pelo jogo que eles mesmos estavam manipulando.
Outra relação de análise indispensável é com o filme “O Anjo Exterminador” (México – 1962), de Luís Buñuel. Assim como no clássico, o convívio em sociedade se torna insustentável (para Brisseau) e o isolamento incontrolável e talvez até inconsciente é a única saída. Além de haver transgressões de comportamentos, sejam eles sexuais (filme de Brisseau), como sociais (Buñuel).
Em “O Anjo Exterminador”, pessoas representantes da alta burguesia, alvo frenquente do diretor, se reúnem para um jantar em uma mansão após uma noite de ópera, de onde não conseguem sair durante dias sem conhecer o motivo. Vivência com elementos celestiais e sobrenaturais.
Transgressões sociais. Enquanto o tempo vai evoluindo, alguns acabam amansando, mas o que vemos na maioria é o ser humano cada vez mais próximo de tornar-se irracional, levado por instintos de sobrevivência, mesclados por sentimentos muitas vezes assistidos, como o egoísmo e a violência.
Paralelamente, em “Os Anjos Exterminadores”, há a questão da transgressão sexual de algumas mulheres e seus prazeres. Que faz um contraponto à transgressão social e suas “comodidades”, no filme de Buñuel.
Há também os anjos exterminadores da obra de Brisseau, que também não poderão voltar de onde vieram. Ficam presos na Terra por terem se envolvido com sua missão e não a terem concluído. Junto a isso, também, há o aprisionamento do próprio Jean-Claude Brisseau com relação a sociedade. Ele passa a viver em um casulo particular após ser banido e desmoralizado por todos, até a sua recuperação e seu retorno. Relação importante para a contextualização tanto da obra, quanto do autor.
Enfim, após terem decidido não deixá-lo “morrer” pessoal e profissionalmente, “Os Anjos Exterminadores” estão por aí e estiveram presentes na vida de Jean-Claude Brisseau, ajudando-o diretamente no seu renascimento e na sua entrada nessa nova fase da vida.
Mais do que um grande filme, marcado por lindas cenas de erotismo e sexo entre mulheres, “Os Anjos Exterminadores” se revela uma resposta para todos esses acontecimentos. Um grito de liberdade, de renascimento do diretor.
No filme, o personagem do cineasta François (Frederic Van Den Driesschev) faz testes de elenco para cena de nudez feminina em seu novo projeto. Nesse processo, descobre a satisfação que algumas mulheres sentem em transgredir tabus sexuais. Admirador do prazer feminino, François fica ainda mais fascinado e tenta desvendar cada vez mais os mistérios deste mundo.
Como um personagem que representa uma versão da história vivida pelo próprio Brisseau, François mistura em sua história realidade e ficção para desbravar esse terreno que acredita ser, e é, de certa forma, inovador. Essa mistura evidencia também a falta de controle em determinadas situações. Apesar de ele “liberar” e dirigir as atrizes (Lise Bellynck, Maroussia Dubreuil e Marie Allan) no set, restaurantes etc, elas não se prendem a esta direção. Começam a sair juntas e aproveitam tudo aquilo longe dos comandos do cineasta.
Permeado por simbologias, particulares ou não, e metáforas inteligentes, a recente obra de Jean-Claude Brisseau é uma aula de planos perfeitos e belos, de atuação, de suavidade nas opções técnicas e de grandeza estética, desenvolvido através de uma construção narrativa simples e agradável, além de ser um filme que não cabe por inteiro somente em uma tela de cinema. Ele está além do que se vê. É maior.
Como citadas anteriormente, as simbologias e as metáforas estão fortemente presentes na obra. Desde a imagem da avó que aparece para François até a presença dos anjos e suas ordens.
A dupla onipresente de anjos representa bem a fase o obscura da vida de Brisseau. O diretor, após os episódios decorridos da realização do seu filme anterior “Coisas Secretas” (2002), entra em um “buraco negro”. Mergulha em um período marcado pela desmoralização pessoal e profissional. Quase um fenômeno sobrenatural. Está aí a relação com os anjos manipuladores do filme. E essa fase pode até ser o referencial metafórico da sequência final em que François é espancado em um assalto dentro de casa, ordenado pelos anjos. Apesar de a missão ter sido deixá-lo morrer, um dos anjos volta atrás e decide não fazê-lo, porém o deixa em um estado deplorável. Missão não cumprida.
Essa decisão decorre de um fato de importante interpretação, para a obra. Um dos anjos, o qual atuou em vários momentos influenciando seu desenrolar, acaba por se sentir atraído sexualmente, também, por toda aquela situação, ficando mais claro no último plano onde os anjos sobrepõem suas mãos e trocam olhares. Enfim, foram atraídos pelo jogo que eles mesmos estavam manipulando.
Outra relação de análise indispensável é com o filme “O Anjo Exterminador” (México – 1962), de Luís Buñuel. Assim como no clássico, o convívio em sociedade se torna insustentável (para Brisseau) e o isolamento incontrolável e talvez até inconsciente é a única saída. Além de haver transgressões de comportamentos, sejam eles sexuais (filme de Brisseau), como sociais (Buñuel).
Em “O Anjo Exterminador”, pessoas representantes da alta burguesia, alvo frenquente do diretor, se reúnem para um jantar em uma mansão após uma noite de ópera, de onde não conseguem sair durante dias sem conhecer o motivo. Vivência com elementos celestiais e sobrenaturais.
Transgressões sociais. Enquanto o tempo vai evoluindo, alguns acabam amansando, mas o que vemos na maioria é o ser humano cada vez mais próximo de tornar-se irracional, levado por instintos de sobrevivência, mesclados por sentimentos muitas vezes assistidos, como o egoísmo e a violência.
Paralelamente, em “Os Anjos Exterminadores”, há a questão da transgressão sexual de algumas mulheres e seus prazeres. Que faz um contraponto à transgressão social e suas “comodidades”, no filme de Buñuel.
Há também os anjos exterminadores da obra de Brisseau, que também não poderão voltar de onde vieram. Ficam presos na Terra por terem se envolvido com sua missão e não a terem concluído. Junto a isso, também, há o aprisionamento do próprio Jean-Claude Brisseau com relação a sociedade. Ele passa a viver em um casulo particular após ser banido e desmoralizado por todos, até a sua recuperação e seu retorno. Relação importante para a contextualização tanto da obra, quanto do autor.
Enfim, após terem decidido não deixá-lo “morrer” pessoal e profissionalmente, “Os Anjos Exterminadores” estão por aí e estiveram presentes na vida de Jean-Claude Brisseau, ajudando-o diretamente no seu renascimento e na sua entrada nessa nova fase da vida.