Friday, October 27, 2006

Os Anjos Exterminadores e o Cineasta Quase Exterminado

O mais novo trabalho para o cinema do diretor françês Jean-Claude Brisseau, “Os Anjos Exterminadores” (2006), é fruto de um contexto polêmico e de superação na vida do cineasta. O enredo muito se assemelha com todo o escândalo vivido por ele anteriormente, após à realização do seu penúltimo filme, “Coisas Secretas” (2002), quando foi processado pelas atrizes, por julgarem abuso os métodos de preparação e atuação utilizados neste trabalho.
Mais do que um grande filme, marcado por lindas cenas de erotismo e sexo entre mulheres, “Os Anjos Exterminadores”
se revela uma resposta para todos esses acontecimentos. Um grito de liberdade, de renascimento do diretor.

No filme, o personagem do cineasta François (
Frederic Van Den Driesschev) faz testes de elenco para cena de nudez feminina em seu novo projeto. Nesse processo, descobre a satisfação que algumas mulheres sentem em transgredir tabus sexuais. Admirador do prazer feminino, François fica ainda mais fascinado e tenta desvendar cada vez mais os mistérios deste mundo.
Como um personagem que representa uma versão da história vivida pelo próprio Brisseau, François mistura em sua história realidade e ficção para desbravar esse terreno que acredita ser, e é, de certa forma, inovador. Essa mistura evidencia também a falta de controle em determinadas situações. Apesar de ele “liberar” e dirigir as atrizes (Lise Bellynck, Maroussia Dubreuil e Marie Allan) no set, restaurantes etc, elas não se prendem a esta direção. Começam a sair juntas e aproveitam tudo aquilo longe dos comandos do cineasta.

Permeado por simbologias, particulares ou não, e metáforas inteligentes, a recente obra de Jean-Claude Brisseau é uma aula de planos perfeitos e belos, de atuação, de suavidade nas opções técnicas e de grandeza estética, desenvolvido através de uma construção narrativa simples e agradável, além de ser um filme que não cabe por inteiro somente em uma tela de cinema. Ele está além do que se vê. É maior.

Como citadas anteriormente, as simbologias e as metáforas estão fortemente presentes na obra. Desde a imagem da avó que aparece para François até a presença dos anjos e suas ordens.

A dupla onipresente de anjos representa
bem a fase o obscura da vida de Brisseau. O diretor, após os episódios decorridos da realização do seu filme anterior “Coisas Secretas” (2002), entra em um “buraco negro”. Mergulha em um período marcado pela desmoralização pessoal e profissional. Quase um fenômeno sobrenatural. Está aí a relação com os anjos manipuladores do filme. E essa fase pode até ser o referencial metafórico da sequência final em que François é espancado em um assalto dentro de casa, ordenado pelos anjos. Apesar de a missão ter sido deixá-lo morrer, um dos anjos volta atrás e decide não fazê-lo, porém o deixa em um estado deplorável. Missão não cumprida.

Essa decisão decorre de um fato de importante interpretação, para a obra. Um dos anjos, o qual atuou em vários momentos influenciando seu desenrolar, acaba por se sentir atraído sexualmente, também, por toda aquela situação, ficando mais claro no último plano onde os anjos sobrepõem suas mãos e trocam olhares. Enfim, foram atraídos pelo jogo que eles mesmos estavam manipulando.

Outra relação de análise indispensável é com o filme “O Anjo Exterminador” (México – 1962), de Luís Buñuel. Assim como no clássico, o convívio em sociedade se torna insustentável (para Brisseau) e o isolamento incontrolável e talvez até inconsciente é a única saída. Além de haver transgressões de comportamentos, sejam eles sexuais (filme de Brisseau), como sociais (Buñuel).

Em
“O Anjo Exterminador”, pessoas representantes da alta burguesia, alvo frenquente do diretor, se reúnem para um jantar em uma mansão após uma noite de ópera, de onde não conseguem sair durante dias sem conhecer o motivo. Vivência com elementos celestiais e sobrenaturais.

Transgressões sociais.
Enquanto o tempo vai evoluindo, alguns acabam amansando, mas o que vemos na maioria é o ser humano cada vez mais próximo de tornar-se irracional, levado por instintos de sobrevivência, mesclados por sentimentos muitas vezes assistidos, como o egoísmo e a violência.

Paralelamente, em “Os Anjos Exterminadores”, há a questão da transgressão sexual de algumas mulheres e seus prazeres. Que faz um contraponto à transgressão social e suas “comodidades”, no filme de Buñuel.

Há também os anjos exterminadores da obra de Brisseau, que também não poderão voltar de onde vieram. Ficam presos na Terra por terem se envolvido com sua missão e não a terem concluído. Junto a isso, também, há o aprisionamento do próprio Jean-Claude Brisseau com relação a sociedade. Ele passa a viver em um casulo particular após ser banido e desmoralizado por todos, até a sua recuperação e seu retorno. Relação importante para a contextualização tanto da obra, quanto do autor.

Enfim, após terem decidido não deixá-lo “morrer” pessoal e profissionalmente, “Os Anjos Exterminadores” estão por aí e estiveram presentes na vida de Jean-Claude Brisseau, ajudando-o diretamente no seu renascimento e na sua entrada nessa nova fase da vida.

Saturday, October 21, 2006

O Início para Iniciantes

Tudo que começa em um lugar, termina em outro. Ou não. Sendo assim, não generalizemos, afinal, cada caso é um caso.
A praça da Cantareira, por exemplo, não começa e nem termina, ela simplesmente existe na sua especificidade unitária do ser.Uma rua de mão única, tem começo, meio e fim.
Uma rua de mão dupla tem começo, meio e fim; e fim, meio e começo, sendo o meio imutável em ambos os casos.
Voltando à praça, quem poderá afirmar seu começo? A Cantareira é um espaço infinito, como um círculo que dá voltas sem sair do lugar. Neste círculo, todas terças, quintas e domingos, instala-se um circo imaginário, que serve de palco para os apreciadores da intensa programação.
Intensa mesmo! Não só "samba, suor e cerveja" embalam as noites cantareirenses, também muita fumaça e pseudo-fogos de artifício contribuem para a diversão - no primeiro caso - e pânico - no segundo. De vez em quando morrem dois, às vezes coincidindo o lugar atingido pelos tiros, ou fogos - quer dizer, não sei - (o que não é muito difícil, já que nosso corpo possui área limitada).
E eu pergunto ao meu improvável sagaz leitor: mas por quê essas coisas começam? Já que a morte nada mais é do que o início para algo desconhecido - e que permaneça no meu desconhecimento! Assim seja, se Deus quiser, l.s.D.

Cantareira, Niterói. 17 de outubro de 2006

Friday, October 06, 2006

O Início à Escrita.

A cessão a meios tecnológicos de comunicação se torna cada vez mais rotineira e de maneiras mais variadas possíveis. Entrega necessária, diante à moribundagem agonizante de outros meios mais tradicionais. Sem medo de ser radical.
Em meio a futilidades e papos batidos e que não dão meio copo, resiste ou até emerge cada vez mais a descoberta de uma saúde cultural dentro desses antros facilitadores.
A internet, ícone maior dessa constatação e representante das classes dos preguiçosos, dos tarados, dos pesquisadores de última hora, dos práticos, dos estudiosos, dos bem e mal informados, dos feios (que a tem como o único lugar que eles podem ser lindos, sarados, gatas e sem celulites), está aí para sintetizar tudo e todos em um só lugar. Um lugar que existe e não existe.
Lá (ou aqui) pairam tudo de melhor e de pior, independente do que te apetece. Do orkut ao fotolog; de comunidades de assuntos utilitários ao Pornô Tube; de bate-papo com usuários de nick tipo "gata folgosa" à fórum de discussões.

Fase Atual: Cedendo ao Blog. Espaço saudável e leve de exposição de idéias, críticas, textos subjetivos etc.

O início à escrita nada mais é que uma decodificação dos pensamentos organização com o objetivo de atingir, debulhar, decupar um determinado tema, seja ele qual for. Inclusive, tudo pode ser tema.
Este espaço não tem a mínima intenção de ser super teórico e de estudo cultural, antropológico e cinematográfico, porém despretensiosamente, espera contribuir de alguma forma, mesmo que da menor possível, sobre assuntos importantes do meio cultural e cinematográfico e até manter informados os amigos distantes.

Adeus, Festival do Rio!
Bem vindos aqui!